quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Pessoas de vento perfumado

Marina Abromovic and Ulay



















A gata miadeira. Mia. Mia. Mia.
A gata miadeira. Mia.

Gata porque a quero gata. Gata porque a sinto gata. Fêmea. Mia. E mia. E mia.

Gata no telhado vizinho. Deitada. Olhando para cima. Para a minha janela. Gata antiga. Vizinha de outros gatos. Desaparecidos. Gata que se faz sentir pela manhã. Ao acordar. Com o sol a pique e ao jantar. Gata que mia. Que mia ao deitar. Gata branca e preta de olhar manipulador em mim. Gata que me fala e me acompanha em passeios pelos telhados. Mando-me e salto para seu lado. Enrolada nas minhas pernas e ela nas suas, falamos de peixe, de castanho e madeira. Falamos da Suécia e da brincadeira. E miamos. Miamos as duas. Eu gata morena. Ela gata branca. Falamos dos filhos. Ela dos delas. Magros e franzinos. Eu da minha velha. Faladora e surda.

A gata Evelina, ou Ermelinda, ou Ermengarda. Eva, não. Nunca! Gata com nome de É. Mas um É sonante. E comprido. E cheio. De elevar a mão e chamar. Ééé... Porque sim. Porque a gata que podendo ser um gato tem de ter um nome de ser. Um nome de existir. De estar. É. É gata. É eu. É nós. Gata que nunca deixa de estar. De estar sobre o telhado. De olhar na minha janela. De existir com o corpo dobrado. Gata-telha. Habitante de argila. Vizinha de ramos secos, de um carro de plástico vermelho e de cacos que contei nas noites em que te pensei.

A gata tem fome? Mas sempre com fome?
E rechonchuda está!
Questiono-me se a comida não a sacia? E não saciando porque mia tanto?
Que procura esta gata?

1 comentário:

  1. A roda da escrita ajuda e tece, do imaginário faz real, alimentando o que acontece

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