quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Lixo

Alphonse Mucha - Winter Night



























Saudade, vai-te embora
Do meu peito tão cansado
Leva para bem longe este meu fado...
- Já está. Dê o seu jeito agora.
Reparaste que não te olho quando te lavas? Para que te sintas bem. Mais confortável. E já chamo à tua vagina de rata. De ratinha. Vagina é asséptico. Contigo quero carinho. Quero afecto. Quero intimidade. E nomes. E coisinhas. E ouvir o teu Francisco José em canções românticas de amores perdidos e impossíveis.

Olhou-se no espelho. Trauteava uma canção. Imaginou-o por trás. Por trás dela. A olhá-la no espelho. A olhar-lhe no traço dos olhos. E a deixar de olhar. Para se perder no decote e deste no olhar. 


Porque será que me tens
Na poeira dos teus passos?

Olhei na tua direcção mas tinhas partido. Sobre a mesa alguém deixou algo escrito.

Um texto é sempre escrito ao abrigo de um passado.

P-A-N-E-L-E-I-R-O-S

                         C-O-B-A-R-D-E-S
                                                                PANELEIROS
                                                                                                                          COBARDES
                                                                                                                                                           Paneleiros
                                                                                Cobardes

Estou farta de paneleiros. E de gente cobarde. Paneleiros que querem saber onde pisam. Pisarão merda. Não há como escapar. De vez em quando pisa-se merda. Merda de pombo. Merda de vaca. Merda de ovelha. Merda de cão. Todos nós pisamos merda. Paneleiros que sabendo onde pisam acabam pisando na merda do lado fugindo da merda da frente. Paneleiros que tem medo de viver. E de foder. E de se dizerem paneleiros. E cobardes. Gente não-autêntica. Não-natural. Gente simétrica. Gente limpinha. Gente de dentes lavados e cabelos escovados. Gente de merda. Merda como a merda que pisa o paneleiro.

Façamos uma farra. Uma farra de droga, sexo, álcool e comida. Morrerei a rir-me de ti e tu de mim.

Agarrei o papel e guardei-o. Junto aos do mendigo.

Sem comentários:

Enviar um comentário