quarta-feira, 19 de junho de 2013

Chaminés de pedra

Casino da Figueira, autor desconhecido

















Há uma janela do lado direito da cena. E uma outra ao centro. Ambas dão para um céu de junho chuvoso. Umas aves, talvez gaivotas, passam a voar. Talvez ao fundo apareçam telhados de casas, edifícios, igrejas, janelas, antenas e gruas. Talvez. Talvez não. Talvez haja uma ponte. E uns montes de pedra com arvoredo. Umas ruínas e um padre que reza uma missa. Um missal aberto numas mãos de dedos finos e ferrugentos. Porque há mãos que oxidam. E as que teimam em paralisar no tempo. E no espaço.


Falam-me em entrega. Os idiotas falam-me em entrega! Os imbecis falam-me em entrega! Porque raio todos me falam em entrega? E em satisfação. Em satisfazermo-nos como cão que sacia a sede. 

E eu tola. Eu crente. Eu na tentativa de fazer correr o sangue nas veias, dou a mão e corro. Deem-me um frigorífico e um fogão. Uma estante para colocar livros de lombada bonita. Uma bicicleta e um casaco. Dêem-me um telhado e um recibo de salário. Um patrão e um chefe. Deem-me ambição e angústia. Férias na praia e máquina fotográfica. Dêem-me tudo aquilo que não me espelha para que eu possa sentir-me... pertencente.

Ele disse odiar-me. E eu senti. Senti que posso ser odiada. E que nesse ódio posso sentir o amor. O amor que me é dedicado. Como um banho de imersão. Com espuma e sabonete de verbena. Meu amor, perdoa-me! Perdoa-me por ser este barco à deriva. E peço perdão sem arrependimento. Sou uma crente de cemitérios. E de choros. Sou crente de mensagens em lábios que quero meus. Só por um minuto. Ou dois. Concede-me uma vida e eu mostro-te o medo e a angústia de me sentar aqui nesta relva, vestida de disponível e de perna aberta.

Não rias. Falo sério. Não rias! Olha-me e vê. Vês os meus olhos? Raiados de álcool. Raiados de passado. Não brinco... Brincarei com a tua piloca. Enrolo-a no dedo e faço dela um caracol. Chupo-a. E sugo-a. Quero-a pequena. Pequena para brincar. Pequena caniche. Pequena mole. Pequena. E imensamente grande a rebentar. Como o meu desejo por ti. Por vezes devorador. De gruta e caverna. De peito e vagina. De colo e pés. Por vezes apaziguador. De sorriso tranquilo e sensualidade nos dedos. Lábios.

Está difícil mas é um começo. Está difícil. Tudo isto está difícil. Que faremos quando a noite se puser e estiver escuro? Que faremos? Diz-me amor, que faremos?

1 comentário:

  1. Porra pá! Não sei como não reparei que tinhas voltado, e como sentia falta da tua incongruência escrita...
    Glad to see (read... whatever...) that somethings don't change.
    Welcome back!

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